20 mar 2022dom 20:00
Compartilhe:
Meia Banda estará de volta na Rebel. Venha de máscara e não esqueça o cartão de vacinação.
Pra quem não conhece ainda, nada melhor que o Fred Coelho para fazer essa resenha:
Há um sol de inverno sobre o Rio de Janeiro. Ele brilha tímido, mesmo que a cidade seja condenada a viver dentro de um cartão postal de beira de praia, com corpos sarados e azuis atlânticos explodindo areias brancas. Pois o carioca sabe que há, também, dias sem sol por aqui. Dias escuros, que produzem céus nublados, mofos em paredes e ventos cortantes. Dias em que a vida está mais para floresta úmida do que para mar ensolarado. Os dias azuis do sol de inverno são frios, e a casa torna-se amiga do sereno, com cômodos que viram úteros de amigos e de famílias, desacelerando a ansiedade juvenil do verão. Nos dias de inverno, amadurecemos por contenção, fazendo a diástole introspectiva dessa cidade que é pura sístole hedonista. São “dias de toupeira”, em que ficamos mais quietos, mais lentos. E se existe uma trilha sonora para esse clima de cidade-preguiça, com seu barulho de chuva e suas vozes mais baixas, essa trilha sonora é, a partir de hoje, uma invenção da Meia Banda.
E para que não haja mal entendido, não se trata aqui de relacionar o som da banda com algum tipo de clima caseiro, improvisação ou onda low-fi. A relação com um clima menos solar e mais introspectivo é para demarcar um outro espaço dentro das expectativas que circulam à respeito de bandas cariocas contemporâneas. E é preciso dizer isso para entendermos esse encontro sonoro entre alguns dos melhores músicos em atividade entre as novas gerações. Bruno di Lullo, Domenico Lancelotti, Eduardo Manso e Estevão Casé gravam, fazem turnês e produzem alguns dos principais trabalhos da música brasileira contemporânea (Adriana Calcanhotto, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso etc.). Além da ampla estrada profissional, suas trajetórias com as próprias bandas já são parte fundamental da contribuição apresentada pelas novas gerações. Juntos ou solos, participam e participaram de bandas com longa estrada como + 2, Binário, Rabotnik, Tono, Orquestra Imperial, Os Ritmistas, Baby Hitler, além de fazerem trilhas e serem parte atuante da música independente feita em espaços cariocas como Audio Rebel e Comuna.
Falando especificamente das ideias lançadas neste primeiro trabalho, há na Meia Banda uma espécie de sonoridade reflexiva, que aponta recolhimento, cuidado e introspeção na construção de cada uma das dez músicas que ouvimos. Elas trazem um forte veio cancional, fruto da parceria entre Bruno e Domenico, mas conseguem explorar e ir bem além dos limites do clássico formato popular. Assim, não se acomodam nos lugares-comuns ou em soluções conhecidas. Melodias, timbres, efeitos e texturas são notadamente trabalhadas em seus aspectos mais delicados – e surpreendem. Tudo aqui respira compromisso com a qualidade final do trabalho.
Produzido por Bruno Di Lullo e Estevão CaséGravado e misturado por Estevão Casé no estudio “Rockit”Masterizado por Daniel Carvalho no estúdio Monoaural.